quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Máscara

Entre os seus projetos de vida estava o plano de falar cinco idiomas até os trinta anos (trinta e cinco, talvez), e visitar todos os países que o encantavam. Era um sonhador. Era impossivel conversar com ele e não ficar embreagada com as suas palavras, os seus sonhos e devaneios, as suas alucinações sobre a realidade e pessoas que talvez nem existam. Era um mentiroso também, mas fazia parte daquela persona.

Passei a pensar que sem certas máscaras não seríamos nada. Ele ostentava desavergonhadamente as suas máscaras, sem pudores de dizer algo e se desmentir minutos após. Achei aquilo incrível, "um grande demagogo", pensei. Mas fazia parte daquela persona.

Cada máscara que caía trazia à tona uma nova que eu tinha anseio por ver. A conversa só ficava melhor a cada mentira que ele contava sobre suas peripécias pelo mundo afora e pelas quantas mulheres que conheceu, sem talvez nunca ter amado uma única sequer. Eu ouvi atentamente.

Até que o telefone tocou. Uma interrupção, que droga! Mas que nada! Melhor que ouvi-lo dirigindo-se a mim era ouvi-lo dirigindo-se a um estranho, combinando mais uma aventura para aquele dia. Como podia a vida de alguém ser assim? Ele não podia só escolher um final de semana e ficar em casa ou pedir uma pizza? Não, ele se entediaria muito fácil. Era um aventureiro, precisava de cachoeiras, aviões, escaladas e vento nos cabelos. Que máscara! O mais inacreditável de tudo isso é que ele ostentava a máscara como se daquele "ego" dependesse o seu Self.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A fonte que não seca

Onde estará a nascente
      da fonte que procuram?

Onde estará a razão de ser
       daqueles que desesperam?

O tempo passa feito água,
         A alma escorre pelas horas.
   
 Onde estará a nascente do rio,
         A fonte que não seca?
         
Do escafandro eu posso ver,
       Nada tão nítido assim.
           
 É a água que jorra
       da alma que escorre nas horas
      
Como o rio que se derrama
       No mar.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Ela só quer dançar

Olha a menina, olha a menina
Ela dança, ela desatina
Ela samba na praça
Ela faz pirraça
Ela samba, é samba de mesa
Como se chama ela?
Ela é Tereza..
E o que Tereza quer?
Tereza quer ficar de pé
Ela quer mexer.
Ela não é mulher de ficar esperando
O samba toca e ela já sai dançando.
O João sobe mais um muro, a noite cai, fica mais escuro
E Tereza ainda está sambando.

Olha ela, olha ela
Ela não cansa
Ela só sabe sambar
Ela canta, ela dança
Ela balança as tranças
Ela não é mulher de ficar esperando
A música toca e ela já sai sambando
O João sobe mais um muro, a noite cai, fica mais escuro
E a Tereza só quer dançar, ela só quer dançar, ela só quer dançar.

sábado, 21 de novembro de 2009

Parte de mim

Parte de mim se foi,
A outra parte morreu aqui.
Parte de mim era sonho,
A outra parte eu não sei,
Talvez fosse sonho também
Ou devaneio, talvez.
Nada em mim estava sóbrio,
Tudo era irreal.
Parte de mim existia em si
Não precisava de mais nada para ser.
A outra parte vivia em ti
Ou em qualquer outro lugar
Onde habitasse a calma.
Parte de mim era azul,
Parte de mim era só flores,
Parte de mim partiu com os meus amores.
A outra parte ficou aqui.
Parte de mim ficou só parte,
Virou metade
À parte de mim.

Dia da Consciência Negra

O post está chegando meio atrasado, desculpem, mas ontem (mesma data em que morreu o guerreiro Zumbi, em 20 de novembro de 1695) foi comemorado o Dia da Consciência Negra e aqui em Fortaleza houve show da Vanessa da Mata, no lançamento do Natal de Luz do Ceará.

Adorei o show, a Vanessa citou uma tia chamada Rita que alisava os cabelos e não reconhecia suas raízes e depois cantou Joãozinho, falando de novo dos cabelos. O show de ontem foi excelente, ela dançou de uma forma linda no palco enquanto cantava suas raízes negras.

O show se encerrou com "Ai, ai, ai", depois de ela ter cantado "Não me deixe só" (minha preferida), "Ainda bem" e "Amado".

Assim que cheguei a Portugal a Vanessa tinha acabado sua turnê, parece ter deixado muitas saudades. Aqui em Fortaleza também, o público a recebe muito bem. Esperamos o repeteco!!!

A todos que ficam... Feliz Dia da Consciência Negra!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Ariano Suassuna, Nonato e o Doca da vaca

Jô - Como é a história do seu amigo, da chifrada do touro?

Ariano - Ah, é verdade! Nonato! Chamava-se Nonato. Ele... Existia um touro lá na fazenda, que chamava-se Cacheado, tinha as pontas muito afiadas e Nonato gostava de futricar Cacheado. Ai, Cacheado tava até amarrado, mas Nonato se aproximou e ai... só fez isso, furou aqui (Ariano aponta para a própria bochecha). E aí, menino... porque dizem por ai que menino é bom... Ah, num é, não.

Jô- não é, não.

Ariano - Menino é inocente, por isso é cruel, mas bom não. Eu me lembro quando a gente era pequeno, quando entrava um novato a gente procurava um defeito físico pra botar um apelido que liquidava com o sujeito pro resto da vida!

Jô- Eu gostei dessa comparação: ele é inocente, por isso é cruel...

Ariano - Ele é inocente, não sabe o que tá fazendo. Pronto. Aí a gente ficava mangando de Nonato, que ele ia tomar leite e o leite saía pelo buraquinho (Ariano faz gesto como se algo saísse pela bochecha). Mas depois cicatrizou, graças a Deus e ele ficou bom. Ah, ele era filho do vaqueiro da nossa fazenda... O pai dele que se chamava Seu Luizinho, tava um dia... amarrou a vaca lá pra tirar leite, amarrou o bezerro na pata dianteira e.. tava lá tirando o leite (Ariano faz gesto como quem ordenha uma vaca) e o filho dele, o outro, irmão de Nonato, Doca, chegou e começou a bulir com a vaca. E ele (vaqueiro Luizinho) disse "não bula com a vaca, não". Ai Doca mexeu e ele disse "não bula com a vaca!". Daqui a pouco Doca mexeu, a vaca deu-lhe um coice que Doca revirou assim (Ariano faz de novo gestos) e ele só disse assim: "Se chorar apanha!".

Jô e a platéia riem.

(Programa do Jô exibido em 2007, com entrevista de Ariano Suassuna).

No youtube: http://www.youtube.com/watch?v=kHLQkNTCkAQ

Pescador

Antes tudo era só paz,
Mar sem ondas,
Meio frio,
Mas sem tormentas.

Assim o barco se foi com oferendas
Que não vão voltar.

Navegas hoje nas ondas
Desse mar de desencanto,
Ninguém mais espera o
Pescador chegar.

Ele saiu na madrugada,
Estava tudo escuro,
Ninguém o ouviu falar.

Mal houve despedidas,
Nenhuma lágrima sequer.
Ninguém sabe pra onde foi,
Só se sabe que deixou filhos e mulher.

É assim a vida
De quem vive no mar.
Um dia a felicidade vem,
Um dia ela vai e ninguém sabe o que esperar.

A gente joga a rede e pesca
De repente um sonho que naufragou.
A gente mergulha, trabalha descontente
Na esperança de achar pelo que se rogou.

sábado, 14 de novembro de 2009

Sobre o tédio

Anna vivia entediada, sabe-se lá porquê. Joana entediou-se depois de um final de semana morno. A morena abriu o bar e foi sambar. Carlos não sabia o que era o tédio desde que arranjou uma namorada quinze anos mais jovem. João terminou o expediente e resolveu parar no bar, encontrar os amigos e não ver a hora passar, enquanto a "patroa" esperava em casa, esquentando o feijão pro jantar.



Ah, mas teve um dia que o samba parou, o sino tocou e a patroa foi buscar o marido no bar! Nesse dia a rua inteira se assustou, a Joana largou o amante, a Anna saiu da sacristia ofegante e o padre Carlos não sabia a quem rogar.



E num é que a patroa descobriu que o João tava saindo da linha? Amigo de João ninguém via, sumiu todo mundo, a patroa tava com o "cão nos couro". O bar parecia um circo, a morena pediu pra ninguém fazer besteira no bar dela, que ali era lugar de gente decente.



O padre Carlos disse que aquilo era sem-vergonhice, que homem casado num podia fazer aquilo não e a Anna veio logo atrás, saber o que tava acontecendo. A Joana desceu correndo, achou que o assunto podia ser com ela, ô susto grande!



De repente a rua inteira saiu pra olhar, o João não sabia onde enfiar a cara, dizia que não tinha acontecido nada. Aí a patroa se acalmou, o padre deu "graças a Deus" que nada pior aconteceu. A Anna voltou pra casa, disse pra mãe que o cursinho tinha acabado tarde. A Joana subiu, foi terminar o serviço. A morena mandou ligar o som de novo que o samba num podia parar.



Na segunda-feira ninguém nem lembrava mais do acontecido. A Anna resolveu arrumar um namorado mais novo, o Carlos só vivia desconsolado, a Joana pegou mais cliente no final de semana seguinte, o João voltou mais cedo do expediente, a patroa esqueceu de esquentar o feijão porque tava falando com a morena do bar: "ô vida..."

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A moça na janela




Lá vai ela,
É a moça que chora na janela
Pelo amor que um dia jurou voltar.

É a moça do coração partido,
Ela que chora sem fazer ruído,
Pro novo amor não notar.
Ele não vê que ela chora
Pelo amor que outrora
Ganhou o mar.

Lá vai ela,
A moça que se debruça na janela
Triste a pensar.

É a moça que mente,
Que ama um amor ausente,
É ela que espera o velho amor chegar.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Carta náufraga

Queixo-me do tédio.
Escrevo a ti uma carta que está fadada a permanecer quieta, silenciosa, queimando no baú das emoções. Se bem conheço meu próprio hábito de fazer confidências às gavetas, esta carta permanecerá aqui, comigo.
Sei que é próprio dos românticos escrever cartas que jamais enviarão, mas esta está aqui apenas para testemunhar mais um naufrágio.
Esta noite foi mais uma daquelas noites em que o sono escapou-me, o riso tomou-me de repente e as horas passaram devagar.
No passar das horas pensei em escrever-te algumas linhas, cheguei a ouvir as músicas que escutávamos juntos, rabisquei alguns versos bobos, românticos... devaneios meus.
É estranho dizer isso, mas não sei se ainda há realmente alguma forma de romantismo em mim. Talvez haja aqui alguma coisa meio despeitada, que recusa-se a calar-se, que torna-se louco, insurgido, impuro talvez.

(...)

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Chico Buarque

O QUE SERÁ (À FLOR DA PELE)
Chico Buarque (Brazil) - 1976

"O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita
O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite.
O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores que vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo".

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Simbora tristeza

"Simbora" tristeza,
Vamos juntas escrever um samba
E quem sabe dançá-lo, talvez.
Vamos juntas, "simbora",
Meu coração já se desfez
Nas notas de um samba qualquer.
Ai, tristeza, "simbora".
Eu não vejo a hora
De me refazer,
De me reescrever,
De reinventar minha própria dor.
Vamos juntas, "simbora",
Você é minha companhia
Enquanto a alegria
Não vem.

domingo, 25 de outubro de 2009

Descanso

As flores repousam no vaso.
A velha borda, cruzando a linha como uma teia.
Ah, as horas que passam!
As crianças brincam barulhentas na calçada.
As árvores balançam com o vento,
Cada folha que cai traz uma lembrança.
O lápis passeia inquieto sobre o caderno.
A alma descansa, lavada, sobre os lençóis que ela mesma teceu.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Canto do mar

Em cada canto da casa
Em cada canto da alma
Em cada canto do mar
Dava pra escutar
Em cada canto que se deixe
Em cada canto que se vá
Em cada canto há
Um segredo a revelar
Em cada canto
Em cada pranto
Em cada luz
Em cada olhar
Em cada canto da casa
Em cada canto da alma
Em cada canto do mar
Em cada canto há
Uma poesia a ressoar.

sábado, 19 de setembro de 2009

Hoje eu sou bossa

Hoje eu sou bossa
Hoje eu amo
Sem meias-palavras
Hoje eu sou inteira
Hoje eu canto minha melhor
E talvez menor poesia
Na ousadia
Na manha
Na festa que é o coração
De uma menina.

domingo, 13 de setembro de 2009

tudo é brisa...

tudo é brisa, tudo passa... de certo mesmo só as incertezas do caminho...

domingo, 6 de setembro de 2009

Brisa do Mar

De repente o ser é brisa
Que se deixa levar
Nas asas da paixão
Quem há de pretender
Saber os desígnios
Do coração
Pois quando a noite é calma
Coração alarda:
"Chegou alguém"
E de repente a manhã se fez
Aurora triunfante
Dos corações amantes
Nos ares de outrem.

sábado, 5 de setembro de 2009

Existência sutil

Quero passar como nuvem no céu
Quero a quietude da montanha
Quero o instante presente
O silêncio que preenche as águas do mar.
Quero a noite que cai
As horas que passam
Num movimento tão sutil.
Quero a existência calma,
Breve e leve
De um ser que vive
Daquilo que sonha
Daquilo que canta, que poetiza.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Biblioteca digital

Acessem
www.dominiopublico.gov.br
É uma biblioteca digital com textos, imagens, sons, vídeos, dentre muitas traduções de clássicos como a Divina Comédia de Dante. Esta biblioteca é gratuita e está ameaçada de desativação devido a falta de acessos. Eu acabei de ler a Divina Comédia, façam vocês também os seus mergulhos e ajudem a manter essa biblioteca digital. Abraços a todos.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Marcas

No tapete enrolado na sala
Nos lençóis espalhados pelo chão
Em tudo há a sua presença...
É, você passou por aqui.
E passou como um vento forte
Um sopro de vida
Um murmurar no silêncio
Um feixe de luz na escuridão.
Você marcou tudo
Como se em cada canto houvesse algo seu
Algo esquecido
Talvez de forma proposital.
Eu me pus a fazer versos
Eu me pus a sonhar de novo
Em tudo se vê
Que você passou.
Passou e deixou marcas
Deixou cartas
Deixou lembranças sob o travesseiro.
Em meio a versos e cartas e marcas
Você esteve aqui
Mas você passou.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Ânsia do mar

Sabe lá Deus se um dia terei descanso
Dos males desse agitado coração
Que passa como maré
Enche, esvazia, seca
Ah que dor é essa
Que mareia meu coração
Sabe lá Deus se um dia terei descanso
Dos mares dessa emoção
É que o coração de quem ama
Vive de ânsia
E se esvazia num segundo
Quando se vê o amor chegar
Sabe lá Deus se um dia terei descanso
Ou se meu coração será sempre um barco
Perdido a navegar.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Esquinas

Eu me pus a caminhar pela vida, eu dobrei tantas esquinas e um dia te encontrei. Eu andava desatenta, não buscava ninguém além do eu que perdi pelos tantos lugares que vi no meu interior e de repente eu te encontrei andando desatento também, dobrando também as esquinas num leve caminhar.

A Arte do Bom Combate

A vida nem sempre é feita de flores, eu o sei. Mas se é feita de luta também é feita de fracassos e vitórias. É preciso viver a vida como a verdadeira Arte do Bom Combate. É preciso fazer da alma uma espada afiada, é preciso ser um bom guerreiro. E todo guerreiro que se preze sabe a hora certa de empunhar e embainhar sua espada. É preciso lutar, saber recuar, saber desistir se preciso for. A verdadeira sabedoria dá-se no combate, na luta constante de se viver uma boa vida. É preciso mesmo lutar com a alma, como se ela fosse nossa única arma, como se essa vida fosse a nossa última chance.



A todos os grandes bons combatentes e guerreiros que conheci.

Quem é ele...

Quem é ele que quando desce à terra
Vem armado para a guerra, montado em seu fiel ginete
Com lanças e escudos para me proteger?

domingo, 23 de agosto de 2009

É fácil falar de amor

É fácil falar de amor. Difícil mesmo é compreender o outro. É fácil expressar através de palavras aquilo que se sente. Difícil mesmo é calar quando o silêncio se faz necessário. Falar é fácil, mas viver cada palavra que se diz é onde mora o segredo de um amor tranquilo, bem vivido, daqueles antigos, com os olhares da moça na janela e as flores do primeiro encontro.


Definitivamente viver um grande amor é uma arte complexa, intuitiva, que não envolve palavras, deve ter mais a ver com olhares, pensamentos, algumas alucinações noturnas, fotografias guardadas numa caixinha enfeitada e alguns sonhos também. É fácil falar de amor e criar teoremas, estratégias de sedução, conquistas e planos seriamente arquitetados para se ter o outro... Difícil mesmo é cultivar.


Todos querem amores caídos dos céus, fortes, grandes imponentes como um baobá. Difícil mesmo é se construir um amor verdadeiro, como quem constrói uma casa segura, como quem cuida de uma criança pequena, como quem rega uma semente. Difícil mesmo é esperar que a semente germine e que, germinando ela brote... que depois de brotar ela cresça, forte, verde, viva. Difícil mesmo é a espera, a esperança, o desejo de ver crescer o amor no outro como quem espera a semente germinar sem garantias sob a terra fértil dos nossos sonhos.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

XX Poemas de Amor y Una canción desesperada


O título desse post é também título de um cd que está sendo vendido na Saraiva por R$29,60 e vale a pena conferir os poemas de Pablo Neruda interpretados por ele mesmo no cd, que foi originalmente lançado em 1965.


São 20 poemas de amor e uma canção desesperada como diz o título da postagem. Bom mergulho pra vocês.

sábado, 15 de agosto de 2009

"Hoje o samba saiu...



Procurando você..."




Ontem, 14 de agosto, além de ter tido show da Vanessa da Mata (que eu infelizmente não consegui ir), teve uma homenagem a Chico Buarque e a Noel Rosa, no Buoni Amici´s, próximo ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Amei!


Pra mim foi uma ótima oportunidade de ouvir Chico e Noel juntos e poder também arriscar uns passinhos de samba, que há muito tempo eu já não dançava. A homenagem e interpretação das músicas ficou por conta do Quinteto Samba da Gente.


"Quem te viu, quem te vê" foi uma das músicas tocadas ontem e eu trouxe a letra pra quem quiser poder fazer um mergulho no samba. Fôlego!!!



Quem Te Viu, Quem Te Vê
Chico Buarque

Composição: Chico Buarque

Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala

Você era a favorita onde eu era mestre-sala

Hoje a gente nem se fala mas a festa continua

Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua
Hoje o samba saiu, lá lalaiá, procurando você

Quem te viu, quem te vê

Quem não a conhece não pode mais ver pra crer

Quem jamais esquece não pode reconhecer
Quando o samba começava você era a mais brilhante

E se a gente se cansava você só seguia a diante

Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado

Você só dá chá dançante onde eu não sou convidado
O meu samba assim marcava na cadência os seus passos

O meu sonho se embalava no carinho dos seus braços

Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão

Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão
Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe

De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse

Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia

Quem brincava de princesa acostumou na fantasia
Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria

Quero que você me assista na mais fina companhia

Se você sentir saudade por favor não dê na vista

Bate palma com vontade, faz de conta que é turista

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Domingo

Hoje não é domingo, mas bem que poderia ser.
Só porque hoje eu me permiti fazer das poucas horas que tenho
Um final de semana inteiro!
Lembrei que do título dessa postagem
Chico Buarque já fez (ou se não fez poderia ter feito)
Uma canção de Desencontro , sem um pingo de açúcar
Em que dizia: "Longe dele eu tremo de amor,
Na presença dele me calo".
Pois foi exatamente isso o que aconteceu
(Ou poderia ter acontecido se fosse real).
De repente, a menina ficou muda.
Parece que aquela menina agitada e falante
Havia se encontrado
Com uma estátua gigante, um titã, um fantasma,
Um adulto daqueles meio opressores
Que dizem sempre o que se deve fazer.
Onde está aquela menina que passava
Horas olhando o pé de jambo
E o pé de acácias, todo amarelinho?
Ela precisa mesmo fazer da quinta-feira
(da sexta e do sábado também)
Um domingo preguiçoso.
Precisa mesmo remexer o baú da infância
E retirar de lá algumas fotografias
(Aquelas que quando a gente via até se envergonhava
Das pernas finas e da boca suja de doce).
Ela queria fazer de todo dia um domingo, pra viver de lembranças
E alguns esquecimentos, talvez alguns planos também.
Quem sabe assim ela ensaie
Algo pra dizer quando encontrá-lo.
Quem sabe assim ela não fique muda ao vê-lo,
Quem sabe a menina do pé de jambo diga a ele que
Meditar pode ser simplesmente ficar olhando pra cima
Esperando o jambo cair.
Afinal de contas, ela é só uma menina
Não sabe nada de meta-física.
Não sabe nada sobre a vida.
Ouve Chico Buarque e acredita
que da dor se faz poesia
E da poesia se faz amor.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Ausência

A tua ausência ainda preenchia toda a casa. Nunca uma ausência, um buraco, foi capaz de preencher toda uma vida. Tudo ali te esperava, as portas tinham a ânsia de abrirem-se, os livros empoeirados amarelavam-se a cada dia na estante e nada de ti. Os ponteiros do relógio giravam e giravam, como versos de uma poesia sem fim. Cada gaveta da casa guardava um segredo teu, cada pedaço de madeira estalava-se ao achar que tu estavas por vir. A tua ausência te fez presente, muito mais presente do que tudo o que havia de mais concreto ali. A tua ausência preenchia horas, espaços, gavetas, lençóis, uma casa inteira, todo o meu ser.

Viver a vida

Viver a vida
Na sua forma mais bonita
Remexer o baú de brinquedos
E retirar de lá nossas boas lembranças

Viver a vida
Construir cada momento
Fazer-se em cada ato

Viver a vida
Consciente de quem se é
E do que se quer

Compor-se como quem compõe uma melodia
Fazendo da própria vida uma poesia
Deixando que cada um pense o que quiser.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Vinicius de Morais

"...E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos - eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfrentando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações - porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.”

Vinicius de Morais

domingo, 2 de agosto de 2009

Eu ousei mergulhar

Eu ousei mergulhar mais fundo. Qualquer um diria que era loucura, mas há sempre algo de desafiador em mergulhar e conhecer-se um pouco mais, não importa o quanto isso custe (e custa!). Num mergulho qualquer, numa meditação, numa respiração, encontramos de repente alguma coisa reluzente, iridescente, descobrimos alguma coisa nacarada da alma. É como encontrar-se num lugar seguro, calmo, um mar sem ondas. De repente, tudo pára. O barulho das ondas que quebram umas sobre as outras fica distante demais para se fazer perceber. É quando você sabe que encontrou uma pérola em si mesmo. É quando você vê que depois de tudo você ainda é capaz de produzir muitas pérolas. De repente a palavra "ANIMA" começa a fazer todo o sentido. Você tem alma, você é, não precisa de nada além disso, além de si mesmo, além daquele momento fugidio. É o momento em que você percebe que realmente vale a pena mergulhar.

Verso do ostracismo

"A alma fechou-se para a dor!

Resolveu que nunca mais iria

Sentir aquilo novamente.

A alma abriu-se como flor

E disse que seria agora diferente".

Mergulho no tango

Esta é a letra de uma música que eu adoro, do Gotan Project.

A música chama-se "diferente" e está toda em espanhol. Novos momentos com antigas inspirações. Mergulhem.



Diferente


Gotan Project
Composição: Indisponível


En el mundo habrá un lugar

para cada despertar

un jardín de pan y de poesía

Porque puestos a soñar

fácil es imaginar

esta humanidad en harmonía

Vibra mi mente al pensaren la posibilidad

de encontrar un rumbo diferente

Para abrir de par en parlos cuadernos del amor

del gauchaje y de toda la gente

Qué bueno che , qué lindo es

reírnos como hermanos

Porqué esperar para cambiar

de murga y de compás .

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Camafeu

Depois de tanto pranto
Eu cedi aos teus encantos,
Me abri como camafeu.
Como ostra ferida
A pérola produzida era um bem teu.
Ah, que sorte a minha ser tua querida
Ser poesia perdida no teu breu.
É que nos teus braços eu dormi desprovida
De qualquer medo meu.
Nem nos meus sonhos de menina
A vida seria boa assim como se deu.
Ah, que sorte a minha ser tua querida
Navegar perdida no teu eu.

Véus

Rasgando o véu do silêncio
O sentimento rompe a noite triste
Que perdure então a cor púrpura nos teus olhos
Eu não quero deixar-te jamais
Eu vi-te atravessar os espelhos d´água
Eu vi-te atravessar as horas
Eu vi-te e isso foi-me o bastante
Rasgando o véu do silêncio, dos medos, das horas
O coração transforma-se
Eu ousei ver-te
Eu ousei inventar-te
Que perdure então a cor dos teus espelhos nos meus olhos
Pois eu ousei abrigar-te em minh´alma
Repousa, bebe e ostenta sobre todos os véus
Eu ouso amar-te.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Interrogaçoes

O que é a nossa vida diante do tempo?
Somos feitos de quê?
Da mesma matéria de que é feito todo o Universo, eu sei.
Somos parte minúscula de um todo intangível, imenso, ilimitado.
Como partes, nao somos por isso fragmentos.
Somos todos, somos inteiros. Mas e a nossa vida?
Será uma página de um livro sem fim?
Quem somos nós a partir do momento em que nos percebemos
Como passageiros, viajantes, temporais?
E a vida que passa como ondas... que será além disso?
Como dar sentido a algo que está se (re)construindo o tempo inteiro?
Como definir, ou por quê definir, algo que é por natureza
Indescritível?
Desculpem a quantidade de interrogaçoes nesta mensagem, mas estou aqui pra isso mesmo... para (me) questionar.
Se alguém tem a resposta?
Eucreio que sim, eu mesma tenho as minhas
Mas é difícil mesmo achar quem esteja satisfeito com as próprias conclusoes.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

永远不会忘记

Nunca esquecer

Nunca esquecer as brincadeiras da infância
A cadeira de balanço dos avós
As músicas de ninar
Nunca esquecer os gostos dos bolinhos com café
Dos banhos de chuva e de mar

Nunca esquecer o primeiro namorado
O primeiro diário, o primeiro beijo
O primeiro palpitar no peito

Nunca esquecer das horas de sono perdidas
Das fantasias vividas
E da ânsia pelo novo e por tudo o que ainda está por ser
Nunca, nunca, nunca esquecer

quarta-feira, 22 de julho de 2009

A sombra dos deuses

Hoje é meu penúltimo dia aqui em Lisboa e (nossa!!!) como gostei dessa terra!

Aqui consegui até ir à praia, algo que eu estava sentindo muitissima falta, mas o mais essencial mesmo disso é que encontrei exatamente tudo o que vim buscar aqui.

Não sei se vocês sabem aquela sensação de "missão cumprida"... É essa a sensação que tenho com relação a Portugal. Fui muito bem recebida, fiz amizades que, bom, não sei se vão durar, isso é o tempo quem vai dizer... mas conheci pessoas singulares, extremamente abertas, carismáticas e sinceras. (Terra boa essa do poeta... Anseio por voltar).

Uma dessas pessoas foi alguém muito especial chamada Rachel, que me presenteou com o livro de Ricardo Reis chamado "A sombra dos deuses".

Eu ainda nem pude lê-lo, mas já abri, folheei e me reservei aquela ânsia do descobrimento! Acho que estou esperando um momento propício, afinal, será de fato meu primeiro encontro com Ricardo Reis.

Bom, esse é outro heterônimo de Fernando Pessoa, assim como Alberto Caeiro. Dizem que esse é o "autor-personagem" de Pessoa que busca a felicidade através da apreciação do momento -- leia-se "carpe diem" -- mas que é extremamente triste. Abaixo, um poema de Ricardo Reis. Espero que tenham um bom mergulho vocês também.


Vem sentar-te comigo, Lídia, á beira do rio
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendemos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Vem sentar-te comigo, Lídia, á beira do rio.
Sem amores, nem ódio, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, que o seu perfume suavize o momento
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada.
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave á memória lembrando-te assim – á beira – rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

Ricardo Reis

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Quintana por um escafandro

"Quem faz um poema abre uma janela.

Respira, tu que estás numa cela abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado."

Mário Quintana

Conselho do poeta

"Esquece todos os poemas que fizeste. Que cada poema seja o número um."

Mário Quintana

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Dormir

Vou deixar a porta entreaberta.
Talvez você queira entrar.
Quando chegar, por favor,faça barulho,
Eu quero sentir o coração palpitar.
Vou deixar o abajour desligado,
Vou fingir dormir sono pesado.
Pra quando você chegar a gente dormir.
Posso até fingir tremer de frio, vou fingir arrepio.
Vou me cobrir dos pés à cabeça,
Esperando que você me aqueça.
E quando você lembrar
Do que eu fiz pra você me beijar, por favor, esqueça.

Olhos nos Olhos

Essa é a letra da música de Chico Buarque, que eu amo de paixão. Estava vendo uns vídeos e achei que alguém poderia gostar de ver esse vídeo do Chico cantando Olhos nos olhos e fazendo alguns comentários sobre a composição da música. Devo fazer um post depois sobre isso, estou com uma obsessão por olhos...

Bom, e pra quem gosta só de poesia, a letra da canção está ai embaixo. Bom mergulho!

Olhos Nos Olhos

Composição: Chico Buarque

Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci

Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos
Quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

E que venho até remoçando
Me pego cantando, sem mais, nem por quê
Tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você

Quando talvez precisar de mim
Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos
Quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Poesia Sideral

Da minha dor eu faço poesia,
Faço disso minha alegria
Eu danço em meio a versos de melodia banal.

Eu ando vacilante,
Numa ambivalência constante,
Segredos de um universo ancestral.

Eu canto sobre a pedra fria,
Falo da minha nostalgia,
Faço disso meu testemunho sentimental.

Eu escrevo sobre um mundo que eu vejo distante,
Faço isso num instante
Enquanto os dias passam no meu calendário oriental.

Mas sei que de nada valem os meus dias,
O tempo passa por vias
Que não me conduzem ao essencial.

Então eu sigo inconstante
Dançando por linhas oscilantes
Dos versos de uma poesia sideral.

Poesia torta

A vida agora acordou.
Alguém me diz os planos pra esse dia,
Mas que ousadia,
Ninguém me diz o que fazer.
Eu quero o orvalho da manhã,
Eu quero a mistura das cores todas em mim.
A vida agora acordou e eu vou fazer uma poesia torta
Pra essa vida morna poder se mexer.
Alguém me diz os planos pra esse dia,
Mas que ousadia,
Ninguém me diz o que fazer.

Isn't she lovely?



Olá, amigos. Esta é a primeira vez que falo diretamente com os leitores do blog (cem almas salvaram-se do purgatório, Amaterasu saiu da caverna!).

Bem, este blog era pra ser profundo mesmo como o mar, intenso como um mergulho, cheio de surpresas e descobertas. Sempre achei que fazer do blog o meu diário de aventuras o faria perder seu sentido essencial, mas estou tão feliz com as novas descobertas, os mergulhos, as poesias, as visitas de vocês aqui... ando tão feliz que tive que fazer isso. Então lá vai!

Semana passada conheci Cascais. Tive o prazer de ouvir Marcelo Miranda cantar Isn't she lovely e uma música que ele compôs com o Jorge Vercilo. Infelizmente o vídeo eu não posso postar. Mas achei incrível conhecer o trabalho dele e da esposa, que já estão aqui em Portugal há anos. O Marcelo tem uma forma lindíssima de compor, as letras, as músicas, tudo soa doce, é incrível. Ele musicou diversas faixas do cd do Márcio Catunda e basta a música começar e já dá pra reconhecer o dedo do Marcelo nas músicas.

E como a vida é ainda mais surpreendente, hoje eu realizei algo que pra mim foi maravilhoso. Recebi o convite pra dar uma aula para um grupo maior de 65 anos, hoje em Estoril. Achei que seria uma aula de campo normal, como todas as outras, mas não consigo achar nada mais normal na minha vida. Vejam só vocês: saí às 08:08 da manhã para dar aula, cheguei à praia de Tamariz em Estoril e dei aula de Sintonia e Cosmodinâmica (Yoga Chinesa e Pa-Kua Tai Chi) ao lado de um castelo de algumas centenas de anos, com os pés enfiados numa areia geladinha, em frente ao mar manso e gelado. A sensação... eu nem consigo descrever, aliás, sinto que fico em débito com as palavras sempre que tento dizer o quanto estou feliz com tudo isso. Abaixo, algumas fotos de Estoril.
(Mergulhem como quiserem, minha experiência agora está compartilhada com vocês). Abraços grandes.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Poema do mar revolto

Era como um barco que ia
De encontro às pedras.
Já nos encontramos então.
Senti a dor como se cada madeira que me compunha
Se desfizesse em farpas.
O vento me levou para longe do cais,
Minhas velas rasgaram-se todas,
Eu cria que me seguirias
Em meio a todos os temporais.
Mas o mar engana, meu bem.
E o coração de quem ama,
Eu sei,
Perde-se nos vendavais.
Vimo-nos.
O coração não acelerou,
Os olhos não brilharam,
As horas não passaram,
Mas eu permaneci ali.

Poema das palavras vazias

Não queria falar aqui do coração partido
Das noites de sono frágil
Das horas ditas e perdidas
Das palavras desperdiçadas ao vento.
Preferia falar dos bons momentos
Das horas de entrega
Daquilo que aquecia o peito
Como se algo ardesse ali
Noite e dia.
Queria falar daquilo que nos tirava o sono
Que nos fazia entregues ao abandono
E do que padeciamos com tamanha alegria.
Ai, como eu queria falar de ondas mais brandas,
Daquilo que aquecia o coração.
Mas com que tão grande pesar é perceber
Que o mal do que estava a padecer
Era mesmo minha própria ilusão.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Sobre o tédio

Quem passou? O tempo ou eu? Fui eu que passei pelo tempo ou foi ele que passou por mim? afinal, eu vou embora e ele vai ficar aqui pra sempre... Porque com uma vida tão maravilhosa às vezes nos sentimos como se o tempo estivesse parado, sentado na sala de estar? Com tantos compromissos, tantas horas marcadas, tantas pessoas indo e voltando, tanto o que fazer... como ainda conseguimos sentir o tédio? Que mal será esse? Será que tem remédio? Dizem que o tempo é remédio pra tudo que é ferida, mas, porra, ele continua sentado ali na sala, sem fazer nada! E eu aqui, sem saber se passo ou se espero o próximo trem chegar.

Lembro agora da forma como escreveu Natércia Campos sobre as percepções de uma casa! E com que inigualável maestria ela descrevia cada espaço, cada viga, cada madeira a estalar numa casa. Como eu queria aquele poder de expressão agora. Alguns diziam que era o tédio que fazia a mulher escrever falando como se fosse uma casa. Ai que tédio bom esse! nada melhor do que o tédio para nos fazer escrever. Aliás, desculpem meus amigos escritores, poetas e cientistas que adoram seus trabalhos acadêmicos, mas nós somos mesmo um bando de entediados! Nunca vi alguém que realmente tivesse motivos pra sofrer que não tivesse um minuto de tédio para escrever sobre as suas impressões mundanas. Quem tem amor por esse ofício acaba arranjando alguma questão existencialista sobre a qual possa escrever, nem que sejam duas míseras linhas. Ai, o tédio! O que seria de nós se não fosse esse vazio na alma e o tempo ali sentado com cara de sono...

terça-feira, 30 de junho de 2009

Lugar ideal


Num ponto distante no horizonte
Há um lugar ideal
Um lugar onde há paz
Onde há um ser amado
Onde somos correspondidos
Há um lugar ideal
Na mente, no coraçao, na Terra?
Eu quero o mapa que me levará
Ao meu lugar ideal...
Às vezes canso de caminhar
Só quero parar
E achar um lugar
O lugar do corpo, o lugar da mente
O ponto de repouso do espírito.
O ponto de equilíbrio
Um nádi, um ponto de parada,
Um lugar qualquer
Eu quero um lugar intangível.

Sobre a poesia

"Os acadêmicos sao muito inteligentes a destruir tudo o que é belo com os seus comentários, as suas interpretaçoes, o seu pretenso ensino. Eles tornam tudo tao pesado que, com eles, até a poesia deixa de ser poética. Eu mesmo nunca assisti a uma aula de poesia na universidade. Estava sempre a ser chamado pelo diretor do departamento que me perguntava:

- Se você vai a todas as aulas porque nao vai também às aulas de poesia?

Eu respondia:

- Porque quero manter vivo o meu interesse pela poesia. Eu adoro poesia, é por isso".

Osho em Autobiografia de um místico espiritualmente incorreto.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Olhando o mar, sonho sem ter de quê...

" Se tive amores? Já não sei se os tive.Quem ontem fui já hoje em mim não vive.Bebe, que tudo é líquido e embriaga,E a vida morre enquanto o ser revive."

Fernando Pessoa

Naufragar

Nada mais sei sobre o que sou,
Nada mais tenho além do que dou,
Nada mais compreendo dos mundos que vi.
Tudo parece a primeira vez,
A primeira hora do dia,
O abrir dos olhos no meio da noite,
A primeira voz ouvida,
O primeio som.
Nada mais desgosta o ser
Quando tudo é novo e belo.
Tarda meu coraçao em reconhecer
As verdades que sabe que sabe.
Do que os olhos nao veem
O coraçao sente falta.
Tudo o que sou,
Nada mais é do que vazio.
O vazio do mundo, o vazio das possibilidades,
O vazio das horas que passam como
As ondas no mar.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Sobre Márcio Catunda

Quando estive em Portugal pude conhecer um pouquinho do trabalho do Márcio Catunda, poeta e cearense. Tem algumas poesias dele que foram musicadas, ganhei um cd dele, achei excelente! Minha poesia preferida se chama "Ciência" (pq será?). Se vocês puderem... http://www.revista.agulha.nom.br/marciocatunda.html#bio

Acessem e conheçam. Creio que vao gostar.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O viajante e o vento


Quando o viajante nao tem onde se abrigar
Deve prosseguir como o vento.
Prosseguir alegre e suave como o vento.
Renunciando à autoridade soberana
O viajante chega a toda parte.
Duas serpentes se apresentam no caminho,
Ele continua a viagem.
As serpentes prosseguem juntas,
No deserto o caminho é incerto
E a força está na uniao.
Seguindo o vento que sopra mansamente
O viajante segue com retidao.
Os maleáveis submetem-se aos firmes.
Com suavidade a madeira penetra o solo profundamente.
Quando o viajante está disposto a encontrar o perigo
Perde o medo da morte.

Vamos parar o tempo

Vamos parar o tempo
Vamos desligar a tv
Vamos apagar as luzes
Eu quero dançar com você
Vamos parar o tempo
Vamos calar as palavras
As bocas, os medos
Vamos parar tudo
Vamos desfazer a cama
Pro coraçao de quem ama
Poder descansar
Vamos parar o tempo
Vamos fazer chover
Vamos apagar as luzes
Eu quero dançar com você.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Uma mensagem


Nada mais o que dizer.

citando um anunciador

"A força do pensamento está nos atos que empreendemos para torná-lo concreto". A melhor definição para a união entre Céu e Terra. Realizar sonhos!

domingo, 7 de junho de 2009

Caminhando como o vento


Vento sobre vento.
Madeira sobre madeira.
Quando perguntas se há algo para ti
naquele lugar, te respondo que deves prosseguir como o vento.
Prosseguir suavemente, esta é a tua ordem para ação.
Não fazes ciência do que há por vir, mas avanças com retidão.
Tua coragem é tua recompensa, alguém segue os passos que deixaste no chão.
Teus ouvidos agora se fazem surdos para as vozes dos fantasmas que antes te guiavam pela mão.
O teu destino és tu quem fazes, mas eu te digo
que tua bússola é o teu coração.
Madrid, 07 de junho de 2009.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Sinceridade

Depois da renúncia vem a recompensa.
Navegar é mais que preciso, mergulhar também.
Conhecer os mistérios de tudo aquilo
que é realmente nosso.
Conhecer os tesouros que se escondem
nas profundezas dos corações.
O mar é profundo, mas os corações são rasos e transbordam.

Madrid, 15 de maio de 2009.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Arqueologia do ser

A busca.
Incessante, ansiosa, cuidadosa.
A busca, a busca.
À palavra, à língua, à boca,
A tudo antepõe-se a busca.
O passo, o traço, o percalço,
O cheiro, o beijo, o lampejo,
As palavras mortas dos livros que leio
Antes é tudo busca.
Às horas, aos dias, às massas,
À própria morte, anterior é, a única e eterna busca.

Mergulho

Preparei os cilindros, as máscaras.
Fiz um mergulho na alma.
Quantos mistérios há ainda neste mar?
Tenho medo, tenho ânsia.
Quero ir mais fundo,
Vivendo num mundo que não é meu.