domingo, 30 de janeiro de 2011

Verdades & Mentiras





"Tengo el presentimiento de que cuando hablo de mí misma, empiezo involuntariamente a mentir."
-Edith Piaf.





Coleciono mentiras. Minto com uma facilidade e uma habilidade que, às vezes, chego a eu mesma crer naquilo em que sei ser mentira. Minto sobre a forma como ajo quando vejo-te e finjo não ser a ti a quem endereço os meus versos. Minto compulsivamente sobre não importar-me com quem andas ou o que fazes. Minto da hora que acordo à hora de dormir. Minto e sinto naquilo que minto o peso das minhas próprias verdades. Elas retornam, como fantasmas que habitam uma casa. As minhas verdades, tão grandes verdades, tão impronunciáveis. Sinto-as pesando sobre as minhas costas, como se contassem a si mesmas no brilho dos meus olhos, no cheiro da minha pele, no som do meu sorriso, no movimento dos meus quadris. Coleciono as minhas pequenas mentiras, esmagadas sob o peso das minhas tão grandes verdades. E coleciono minhas mentiras como quem coleciona borboletas, como se elas pudessem fazer-se livres a qualquer momento.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Sertão



Simbora, amô,
Que lá no sertão tudo é mió.
Bota teu vestido de frô,
E vamo vivê de amô,
Que lá no sertão inté a lua é maió.
E se nóis cansá,
Nós inventa o que fazê,
E se carece, nóis inventa até
ôtro jeito de amá,
de amá inté o sol nascê.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Tarde de verão


A Escafandrista



Tomou um último gole de vinho. Ouvia-se o coração bater ao longe, como se dentro do peito soasse um relógio antigo, badalando, como um sino de uma igrejinha daquelas no interior. O peito era cela em que rebelava-se, prisioneiro, um coração desejante. Apesar de tudo, restava ainda, no terreno fértil das lembranças, no gosto doce da boca, a esperança que banhava aquela tarde com as cores de um verão quase febril e passageiro.


segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Sinceridade Profunda


"Sob o Céu, somente o indivíduo possuidor da lealdade e sinceridade mais completas é capaz de desenvolver totalmente sua verdadeira natureza. Quando é capaz de desenvolver totalmente sua verdadeira natureza, é capaz de desenvolver totalmente a natureza de outros indivíduos. Quando é capaz de desenvolver totalmente a natureza de outros indivíduos, é capaz de desenvolver a natureza de todas as criaturas. Ao fazê-lo, é capaz de tomar parte nas funções de nutrição e transformação do Céu e da Terra e se torna um com o Céu e a Terra".

Confúcio, passagem retirada do livro I Ching, hexagrama Sinceridade Profunda, pág. 466.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Asas



Procuro as palavras-chave dos meus versos, os versos que eu mesma criei, os versos que me colorem a alma, os versos cuja vida fui eu que dei. Foram tantas palavras escritas e depois de tantas coisas ditas já não sei quem fez o quê. Confundo-me com os meus versos, sem saber se foram coisas que disse ou só pensei. Eles conversam comigo nas noites sem dormir e quando tento fugir, eles vêm. Pergunto a eles tantas coisas quando vêm me visitar e escrevo das minhas dúvidas, da minha essência, das minhas angústias e eles respondem tantas coisas que nem sei. São tantos versos, são tantas dúvidas e as minhas asas, eu me pergunto, onde deixei?


A Escafandrista.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Um violino no mar

Hoje perguntaram-me qual instrumento musical eu seria e respondi:

"Um violino".

Independente do significado que este instrumento possa ter, respondi que gostaria de ser um violino porque "reúne a delicadeza que é própria do instrumento à uma forte presença". As pessoas revelam-se em suas palavras, amigos escafandristas, e eu gostaria de dividir isso com vocês. Quais instrumentos vocês seriam?


Imagem da web

sábado, 15 de janeiro de 2011

Dos versos gravados na pele

O gosto de estrelas na boca,
(Céu da boca)
Versos gravados na pele,
Por baixo da roupa,
Versos em forma de sinais.
Eu escrevo no teu corpo,
Nas linhas do teu rosto,
As poesias ideais.
Só queimam em nós as palavras não ditas
E as palavras escritas são como as flores
Que nasceram em nossos quintais.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Reencontros

Vens chegando, voltando para casa,
Com a cama arrumada ela te espera.
Vens chegando, malas pesadas, cabelos ao vento,
E ela correndo, peito aberto, quase morrendo,
Porque saudade se não mata, dilacera.

Digo que amor que é amor é cego,
Também é surdo e tudo o mais,
Que quando se tem saudade
Ouve-se o coração bater, 
Soar com os sinos das catedrais.

Mas quando estás de volta ao lar,
Ela abre os braços pra te receber,
Mata as saudades que estavam o peito a romper
Feito rio cheio transbordando no mar,
No mar dos olhos dela ao te ver.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Das minhas inspirações

Imagem de Francine Van Hove



Tem chovido bastante nos últimos dias e eu que adoro chuva tenho estado um tanto mais inspirada a dormir e escrever, dois vícios. É que quando chove, tudo corre bem. Chuva lembra-me cama quentinha, café quentinho, cheiro de planta, cheiro de terra, a casa da infância, os sonhos que tinha e que não mudaram depois que cresci. Chuva é bom, chuva lava a alma. No meu caso, chuva lava a alma, alegra, faz esquentar a cama, o café, ficar em casa e jogar conversa fora. Ah, claro, chuva também faz escrever poesia. Faz até escrever em forma de prosa, que eu confesso que não sei bem, talvez minha melhor expressão seja através de versos. Chove aqui dentro agora, no meu escafandro, no meu coração... e eu adormeço calmamente. Sempre rezo antes de dormir, mais agradeço que peço, mas não esqueço de pedir que não pare de chover... lá fora e aqui dentro também. Boa noite a todos que aqui mergulharem.

P.S.: Porque também é bom mergulhar com chuva.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Terra & Chuva

Imagem de Francine Van Hove


Desejava agora ser onda no mar,
Ser terra molhada de chuva
E embebedar-me de amores uma vez mais.
Desejava ser palavra cantada,
Poesia alada,
Barco queimando no cais.



domingo, 9 de janeiro de 2011

Esquecimento

Imagem de Francine Van Hove


Nada mais sei do que vivi,
Dos dias que carrego no corpo
Das poesias que trago na memória,
Só lembro do que escrevi.
Nada mais recordo do que passei,
Se chorei, se amei,
De nada lembro mais.
É que hoje acordei uma incógnita,
Poesia concreta, insólita,
Esquecida de tudo o que deixei para trás.

Só para atualizar mesmo, ando meio sem inspiração para as poesias. Uma ótima semana a todos e aos novos seguidores, muito obrigada por mergulharem aqui.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Versos antigos

Imagem de Francine Van Hove

"Desarrume os meus cabelos, compre suco de laranja para o café da manhã e esqueça as bobagens que eu disser quando estiver um tanto temperamental. Abrace-me se eu chorar, mas não faça muitas interrogações. Seja comigo, ao mesmo tempo, dois e não um".

Esteja comigo, poesiaescafandrista.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

"Das poesias

que restam-me hoje..."


"Ah, derramar-me líquida sobre o mar
– ser onda indefinidamente –
esperar pela primeira estrela
e dela ser apenas
espelho".

Olga Savary

Olhar vacilante, falta a voz. Indefesa, refugio-me sob as tuas asas. Doces horas, escrevo sobre a tua pele as poesias que antes habitavam as paredes do meu quarto. Mais um quarto de hora, espero. Passos de um leve caminhar, escondo-me sob a tua sombra, guardo-me inteiramente: sóbria, compreensiva, expectante. Jardineira, mãos na terra, trabalho de poeta é fazer poesia germinar que nem planta. Então floresço. Esse verbo existe? Se existir, acho que escreve-se assim. Com sc. Floresço, emudeço, docemente padeço deitada sobre as horas nas quais espero-te.

A Escafandrista

domingo, 2 de janeiro de 2011

Viagem


Foto: marcelo rogério


Viagem (postagem de ano novo),
02 de janeiro de 2011.

Tempo passa, pessoas vão, dizem que a vida é como uma viagem de trem: paramos algumas vezes, conhecemos pessoas, vivemos coisas maravilhosas, às vezes perdemos nossa bagagem, mas o que há de certo mesmo nisso tudo é somente a parada final.

Aproveitando a viagem, vejo as paisagens que nos recebem, rapidamente, pelas janelas. Vejo-te à minha frente, semblante caro, sorriso infantil que traz à lembrança tantas outras boas lembranças. E a viagem continua.

Bem maior que a vontade de ficar, é o desejo de partir, amigo. É bem maior que todo este chão que já percorremos. São tantos anos de estrada, calos nas mãos e rugas ao redor da boca e dos olhos. Sorrimos e choramos. E a vida passa.

Recordo-me bem das conversas entre uma parada e outra. Recordo a tua psicologia barata para tentar conter-me enquanto eu partia. Nada impede a natureza e ela cumpre sua própria vontade. Talvez seja da natureza de cada um: ficar, estar, ter, partir, voltar, repetir.

Sempre deixamos algo por cada lugar em que passamos, mas nossa bagagem sempre aumenta. Incrível, não? Como não poderia deixar de ser, carrego sobre as minhas costas algumas bagagens que pesam, coisas que eu já deveria ter deixado em algum lugar, coisas que talvez fossem melhor de serem esquecidas pelo caminho. Porém carrego aqui comigo doces lembranças, que vejo na forma de fotografias. Na verdade, algumas ficaram como marcas em meu corpo, outras, na minha mente.

Viver é isso também, amigo. Viajar, conhecer, carregar bagagens, esquecê-las, subir noutro trem e seguir para outro lugar qualquer onde haja mais sol, onde haja mais amigos e tudo o mais que os justos como nós merecem.

E merecemos mesmo, viu? Não é ironia, não. Não são todas as pessoas que sabem como aproveitar uma boa viagem.