segunda-feira, 26 de abril de 2010

1976

E quando eu ainda nem havia nascido Chico Buarque se perguntava



O que será que me dá?
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita


O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite


O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo



O que será (À flor da pele) - Chico Buarque, 1976.
Para o filme Dona Flor e seus dois maridos de Bruno Barreto


Só porque eu ando tão à flor da pele ultimamente e não queria postar a letra de Vapor barato/flor da pele. Boa noite a todos.

sábado, 24 de abril de 2010

Um bom lugar para morar


Um bom lugar para um pássaro fazer sua morada deve ser tranquilo, cheio de suas pequenas coisas, saídas de algum baú ou gaveta lírica. Uma boa morada para um passarinho deve ser pequena, fresca e que faça friozinho a noite para os passarinhos se aquecerem. Alguns bons livros, uma música lenta para dois e um cheiro de café às três da tarde. É um bom lugar para um passarinho fazer morada.

Ilustração: poesiaescafandrista by polyvore

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Jorge Guerreiro




Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge para que meus inimigos, tendo pés não me alcancem, tendo mãos não me peguem, tendo olhos não me vejam, e nem em pensamentos eles possam me fazer mal.

Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar.


Eu andarei vestido e armado com as armas de São Jorge.

23 de abril, Dia de São Jorge.

Ilustração: Rafaelle Costa.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Te echo de menos

Si hoy me vez así como estoy
Es porque yo así me hizo
En tantos y tantos dias.

Si cuando llegas
Me encontres asi un poco lejos de ti
No creas que te olvido...

Si quieres hacer conmigo
Todo lo que un dia pensabas hacer
Con la mujer de tu vida
Y no sepas si soy yo misma
No dejes de hacerlo por la mala duda.

Es que cuando estoy aqui
Pocas veces estoy en mi
Pero si por un rato
Tu sueñas que no soy tuya
Te pido que te vás
Pero que volvas temprano.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Fogo e vento

Ardem os corações dos homens.
Arde sobre a pele aquilo que
Nem água, nem frio, nem tempo apaga.
Arde sobre a pele e sob o peito.
Arde e bate,
Quente, Humano, Divino e Carnal.
Ardem os corações dos homens,
Arde o peito, arde a pele,
Os olhos brilham, a boca arde
O coração bate,
Bate o sino, passam as horas,
Tudo queima e semeia
Mais e mais
E queima, e passa, e semeia, e bate...
E arde.. arrrrrrrrr...

Grãos de areia no tempo...


Quantas noites, quantos outonos há em minha pele?
Quantos grãos de areia carrega meu corpo?
Quantas horas restam, quantas visões meus olhos ainda terão?

E depois do grande dia
Quantas horas vão restar?
Quantas vozes irão se levantar?
E ao ver o meu peito sangrando,
E a força com a qual levanto,
Quem irá desafiar?



quarta-feira, 14 de abril de 2010

Alquimia

"Amor, faz uma poesia que faça o tempo parar quando estivermos juntos?"

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Samurai



No raiar do sol,
No cair da noite,
No calor da batalha,
Fortaleço-me.
Danço sobre a terra fria,
Mergulho nas profundezas do que
Quase sempre desconheço.
A cada dia que passa fortaleço-me.
Caminho sozinho, seguindo um instinto,
Como quem sabe onde vai chegar.

(Samurai, há mais ciência que virtude em reerguer-se.
Parte-se da própria experiência.)

"Tudo o que não me mata me fortalece", Gengiskhan.

Flor do mar

Flor do mar,
Eu cantarei ao vento os teus segredos,
Guarda em ti os meus melhores momentos,
Quando eu partir, levar-te-ei comigo.
E tu serás sempre minha, flor do mar,
Guardada no meu baú de lembranças
Com as cartas de amor e poesias
Que jamais publicarei.

Flor do mar,
Eu beijarei os teus olhos,
Eu falarei aos teus ouvidos
As histórias que ouvi por esses mares.

Flor do mar, não chores, não
Que eu voltarei e levar-te-ei comigo.
Guarda em ti os meus melhores momentos
E não sentirás as dores de nenhum adeus.
Fica gravado no meu corpo
A tua maior poesia,
Fica em minh´alma a luz do olhos teus.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Cores de outono (Arancione)



Queria contar-te que agora as horas passam de outra maneira.
Queria contar-te que agora existe uma paz imperturbável,
Uma ânsia indecifrável,
Uma luz que aquece o ser.

Há agora uma força que levanta-se ao sol
Há nos meus olhos, lábios, pele e pêlos uma cor diferente
Das cores do meu outono.
Há agora tardes arancione,
Noites de insônia e manhãs preguiçosas.

Há agora uma força que levanta-se ao sol,
No passar das horas,
No contar dos passos,
Nas folhas que caem ao vento.



Imagem: flicker.com/photos/mamluke/261460883