sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Convite

Imagem de Francine Van Hove


Vive em mim,
Habita-me.
Convido-te a passar
Dias e noites aqui,
Sob o teto dos meus sonhos,
Sob o pretexto dos menores acasos.
Vive aqui,
Habita-me.
E passaremos horas olhando
Por estas janelas
Os outros namorados que agora
Passeiam dispersos,
Distraídos de seus próprios passos.
Vive em mim,
Habita-me.
Convido-te a não ser somente passageiro.
Convido-te a ficar aqui mais algum tempo,
Mais algumas horas ou dias,
Convido-te a ficar na memória,
Nos quadros, nos cheiros
Na vida minha.
Vive aqui, habita-me.
E veremos a vida passar lentamente
Acariciando-nos a pele
O rosto e os pêlos.
Veremos realizar-se a promessa
De dias melhores,
De momentos felizes.
Vive em mim,
Habita-me nos meus mínimos espaços,
Nos meus versos, convido-te.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Me Deixe Mudo

A ma sante de Francine Van Hove

Não diga nada
Saiba de tudo
Fique calada
Me deixe mudo
Seja no canto, seja no centro
Fique por fora, fique por dentro
Seja o avesso, seja a metade
Se for começo fique a vontade
Não me pergunte, não me responda
Não me procure, e não se esconda

domingo, 24 de outubro de 2010

Dizer "não" sorrindo


Imagem de Francine Van Hove


Sentada à mesa, vontade de escrever não falta. Mais de meia-noite, um final de semana agitado, nada a perder a não ser as horas de sono, véspera de segunda-feira. Pensar no que poderia dizer a alguém nestas horas pode ser cruel comigo mesma, penso eu.

Levanto, olho os objetos da sala, quadros e livros, tudo parece perfeitamente combinado, mas um vazio ainda habita esta sala de estar. Tantos sofás para quê? Vou ao quarto. Deitada, penso no que poderia ter sido a noite anterior se não tivesse dito "não". Aprisionada novamente pelos meus valores extremamente puritanos que chocam-se com os desejos mais naturais de querer dizer quase sempre "sim".

Aprendi que não pode-se dizer "não" sorrindo. Eles retornam e voltam mais ambiciosos. É neste momento que usa-se todo o repertório educado de dizer "não" sorrindo ou virando o rosto para o outro lado, mas ainda assim, eles retornam como fantasmas.

Sozinha estou. Sozinha com os meus fantasmas, eles contam como companhia? Se alguém telefona e pergunta se pode vir aqui, o que eu respondo? "Não dá, estou acompanhada". É quase instintivo, dizer "não" querendo dizer "sim". Tantos sofás, uma cama, o tapete da sala... tantos "nãos" para quê? 

Amor Porteño



Amor Porteno



Gotan Project

Una inquietante mirada de amor porteño

Cálida y cruel

No, no puedo creer que pasó

Que el misterio sensuel de tu risa canyengue

Se apagó


Brindo por esa ilusión de amor porteño

Loco puñal

Dulce y fatal, la nostalgia

De un tiempo pedazo de

Nosotros dos


Y yo que pensaba que no me importaba

Que una caricia podía borrar el color

De mi ciudad …


El código oculto de esa mirada

Es como una señal

Y no puedo zafar

Un deseo sutil que temblando me viene a buscar

sábado, 23 de outubro de 2010

Das nossas confissões

Tango by deadangel

Olhos confessam a nossa adicção,
Olhos confessam o que não tem perdão.
Olhos confessam a divina alegria
Dos corpos que bailam na mais profunda euforia.
Olhos confessam o que tentamos esquecer,
Confessam o que palavras não podem dizer.
Olhos confessam um segredo que guardamos em profunda aflição,
Nossos olhos atestam a nossa perdição.

Agito, calores e desconserto

Oi, gente, sei que não tenho postado ultimamente, também não tenho escrito tanto, mas coloquei agora uns versinhos pra atualizar, nada demais. Gostaria de dar os parabéns atrasados pelo Dia do Poeta e ao Marcelo do Alucinações Amorosas que muito gentilmente lembrou de alguns dos poetas blogueiros, incluindo a Escafandrista que vos fala. Sem mais demoras, a poesia diz assim:

"Quero ser tudo o que te habita,
O que te domina
E predomina em tua mente.
O que te controla as horas de vida,
Que te adora e te castiga
E tu não te ressentes.
Quero ser tudo o que te move,
O destino que te reserva a sorte,
Aquilo do que não foges,
Quero ser pra sempre.
Quero ser pro teu corpo
O seio que te acolhe,
A temperatura certa,
A conduta mais incorreta,
O futuro que não escolhes.
Quero ser tudo o que te agita,
O que te cala e te trata as feridas,
A febre que te causa suor.
Quero ser começo sem fim,
Ser tua querida,
Marcada em tua vida,
Atada a nó".

Foi feita no dia 20, mas só pude postar agora. Não tem nada a ver comigo esse amor meio agitado e desconsertado, mas é só uma das muitas formas que existem e aqui ele vira poesia. Um bom final de semana a todos!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Poesia de Abandono

Eu indo embora, amor.
Depois do que você me fez não dá pra ficar,
Eu te dei casa,
Eu te dei cama,
Eu te dei tudo pra você me amar.
Eu já fiz as malas,
Não adianta me pedir pra voltar.
Eu indo embora, amor.
Depois do que você fez não dá,
Eu levando embora tudo o que te dei,
Vão comigo as mágoas,
As minhas horas e todas as histórias que te contei.
Pra você não deixo nada,
Porque de tudo que te dei nada sobrou
Eu indo embora, vou agora, sem demora,
E quem sabe eu encontre algo melhor
Nos braços de outro amor.


Alguém me faz uma poesia em forma de samba. Desculpem se parecer triste, mas eu ando com essa temática de abandono, ela sempre rende muitos versos. A poesia "A nossa casa" foi feita com a mesma temática. Bom começo de semana pra vocês!

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Tango Pasión

Música e vídeo de Gotan Project





Diferente

Gotan Project


En el mundo habrá un lugar
para cada despertar
un jardín de pan y de poesía

Porque puestos a soñar
fácil es imaginar
esta humanidad en harmonía

Vibra mi mente al pensar
en la posibilidad
de encontrar un rumbo diferente

Para abrir de par en par
los cuadernos del amor
del gauchaje y de toda la gente

Qué bueno che , qué lindo es
reírnos como hermanos
Porqué esperar para cambiar
de murga y de compás .

domingo, 17 de outubro de 2010

Diga "olá" para o meu novo eu

Sinto dizer, querido, o tempo passou para nós. Cá estamos, lendo os nossos livros, ouvindo sempre os mesmos discos. E penso comigo mesma: "será que ainda faço o seu estilo?". Quisera eu poder dizer que ainda poderíamos pensar em possibilidades, mas certas coisas não acontecem quando não devem acontecer. Simplesmente isso. Eu poderia ter ligado, eu poderia ter dito o que pensava realmente. E talvez nós ainda estivéssemos aqui, em vez dos cacos que sobraram dos sonhos que habitavam este apartamento. Eu queria ter estado aí e eu não teria deixado que repousassem sobre o seu rosto as marcas desse tempo. Resta-nos agora dizer adeus ao que fomos um dia, a vida deixa marcas que nos modificam, impossível não sentir. Diga "olá" para o meu novo eu, esta agora é a imagem que deve ficar na sua mente até que nos vejamos um outro dia, num tempo desses qualquer. Guarde em você o que há de bom em mim. Eu não ousaria pedir que você me esquecesse.


Same Mistake

"I'm not calling for a second chance,
I'm screaming at the top of my voice.
Give me reason but don't give me choice.
'Cause I'll just make the same mistake again."

Same Mistake, James Blunt

"Eu não estou pedindo por uma segunda chance,
Estou gritando o mais alto que posso,
Dê-me uma razão, mas não dê-me escolha,
Pois eu cometeria o mesmo erro novamente"

Mesmo Erro, James Blunt


Agradam-me os versos dele...

Imagem da web

sábado, 16 de outubro de 2010

Daquilo que nos move

É o que não desafina,
Não erra o passo,
Não sai do tempo,
Não sai do tom.
É o gosto apurado,
É o fino trato,
É o ofício que revela o dom.
Amar é desafio,
É escapar da solidão por um triz,
É querer viver em cio,
É a habilidade de tentar
Todo dia ser feliz.
É tudo o que não se prescreve,
É tudo o que se reveste
De alegria ou coisa assim.
É noite de carnaval,
É duelo entre bem e mal,
É fantasiar de Arlequim.
É poesia, é prosa,
É melodia nova,
É bossa de Tom Jobim.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Loja de doces



Como seria
Se a cidade ganhasse novas cores
E no chão houvesse flores
Feitas para ninguém pisar?
Como seria
Se a vida fosse "una tienda" de doces
E nós guardássemos nossos amores
Numa caixinha na sala de estar?
E se pudéssemos fazer da vida
Alguma coisa mais bonita,
Algo mais que se possa saborear?


Estes são só uns versinhos singelos (como os outros), mas que refletem um momento bom. A inspiração está numa "tienda de dulces" que conheci em Toledo, Espanha e parecia uma loja de sonho! As imagens vocês podem encontrar clicando em La Cure Gourmande. Abaixo, uma imagem de como a realidade pode ser doce:


La Cure Gourmande

domingo, 10 de outubro de 2010

Voltando pra casa

Imagem da web


Tô voltando pro samba,
Onde eu nasci e me criei,
Tô voltando pro que deixei,
Cheguei pra ficar.
Tô voltando pro samba.
Tô de malas e cuias,
Porque meu coração já foi "pras cucuias",
Agora tô voltando de vez.
Volto com o coração maltratado,
Maltrapilho, despedaçado
De tudo o que o mundo me fez.
Eu tô voltando pro samba,
Porque o bom filho retorna,
Tô voltando pro samba,
Pra tudo que guardo na memória.
Tô voltando pra vida que me cabia,
Tentando desfazer tudo o que eu temia,
Tô voltando pro que deixei.
Tô voltando pro samba,
Tô voltando pra casa de vez.

sábado, 9 de outubro de 2010

Catavento


Imagem de Ptakart


Sinto-me deitado sobre nuvens
Quando vejo meu bem dançar
E seus cabelos são leves,
Quando o meu bem começa a girar.
O meu peito é catavento de emoções
Tudo fica assim a se misturar
Quando eu vejo o meu bem,
Quando eu vejo meu bem dançar.


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Imagem em site

Quando eu nasço, sou preto

Quando eu cresço, sou preto

Quando eu fico no sol, sou preto

Quando eu tenho medo, sou preto

Quando eu estou doente, sou preto

E quando eu morro, continuo sendo preto

E você, cara branco,

Quando você nasce, você é rosa

Quando você cresce, você é branco

Quando você fica no sol, você é vermelho

Quando você fica no frio, você é azul

Quando você tem medo, você é amarelo

Quando você fica doente, você é verde

Quando você morre, você é cinza

E você ainda vem me chamar "de cor"???

 
Poema eleito pela ONU como o melhor poema de 2006, escrito por uma criança africana. Achado em artevoadeira.blogspot.com e me comoveu.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Memórias e Tempos


Ilustração: poesiaescafandrista by polyvore



Eu fiz o tempo passar,
Eu andei por onde tantas outras civilizações andaram.
Eu caminhei e procurei ali o meu lugar.
Por entre ruas tortas,
Pessoas meio mortas,
O cheiro do absinto no ar.
Eu fiz o tempo passar, passar como o vento.
Eu fiquei marcada ali,
De tantas coisas vistas,
Nada sacia o meu desejo
Do meu prazer estético.
Eu caminhei ali,
Deixei no chão a marca dos meus passos
E eu volto,
Porque ali mesmo prometi voltar.
Eu fiz então o tempo, tanto tempo passar,
Passar como o vento, eu fiz o tempo passar.
Eu vi a mulher de saia comprida,
Eu vi a feira amanhecer.
Eu passei ali e tudo ficou em mim,
A igreja antiga,
A música e tudo o mais.
E eu deixei marcas lá.
Eu fiz o tempo, eu fiz o vento, eu fiz o mundo girar.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A nossa infância


Imagem da web



É o tempo, é o tempo,
É da idade, é coisa de criança,
É doce, é doce.
São coisas da infância.

E esse jeito de ser
De quem não tem preocupação
É o tempo,
É da idade,
Nada faz mal, não.

Pode comer chocolate,
Pode correr na calçada,
Pode brincar à vontade,
Nada faz mal, não.

E pode falzer o que quer,
falar o que quer,
Tudo tem perdão.

É tudo coisa da idade,
É de bila, é de bola,
É brincadeira,
Nada faz mal, não.

Manhã

Imagem da web



Permanece sobre a pele agora o frio de uma manhã que esconde-se como se não fosse ainda primavera. Fica sob o peito, a aquecer-me, um desejo de mudança... Que seja em breve.

domingo, 3 de outubro de 2010

Interlúdio

Imagem da web


As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.

Não me digas que há futuro
nem passado.
Deixa o presente — claro muro
sem coisas escritas.

Deixa o presente. Não fales,
Não me expliques o presente,
pois é tudo demasiado.

Em águas de eternamente,
o cometa dos meus males
afunda, desarvorado.

Fico ao teu lado.


De Cecília Meireles
(estou louca pra comprar uns livros dela!)

sábado, 2 de outubro de 2010

Despedidas

"...porque quando você me vê passar você sente que sou sempre assim, tão fluido e você acha que me compreende, mas tudo o que apreende de mim se esvai com tamanha facilidade e tudo o que interpreta de mim é o meu caminhar vacilante, as minhas palavras soltas, sem sentido, sem açúcar, sem afeto, sem um pingo de razão, mas que você desejava que fossem todas suas..."

Despedidas, poesiaescafandrista.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Dos caminhos

Ah! Os caminhos estão todos em mim.
Qualquer distância ou direcção, ou fim
Pertence-me, sou eu. O resto é à parte.
[...]

Fernando Pessoa