domingo, 30 de maio de 2010

notícias de além-mar

Ouvi notícias de além-mar. Disseram-me que já não mais esperas-me. Agora padeço. Padeço nas horas gélidas e incontáveis que eu guardava, sempre, todas tão tuas. Não contava eu com tal possibilidade, imaginava ser nosso, e não somente meu, o baú de lembranças que trouxe comigo. Mas, vá lá, não vive-se de lembranças, eu sei bem.

Resta-me agora preencher as horas (antes tuas), recortar as boas memórias do álbum de fotografias e desfazer alguns nós da garganta. Procurarei agora em outros braços o consolo para os meus abraços que ainda buscam o corpo teu. Direi agora para algum outro, qualquer que seja, as palavras que guardei antes a ti e que queimavam no peito, na boca, na língua e se prendiam pelos dentes, lutando para sair.

Farei agora com outro o que tantas vezes falamos em fazer juntos: os passeios, as viagens, os planos de ter filhos e viver na casa de campo. A casa agora resume-se a cinzas, ruínas das minhas doces memórias tuas. Ficas agora com minha última notícia além-mar e os meus votos de felicidades. E caso queiras, quem sabe um dia, responder a esta carta, não envies para este endereço. Eu já não estarei mais aqui.

Sou Ana de cabo a tenente, sou Ana de toda patente,
Ana de Amsterdam

Baseado na obra de Chico Buarque e Ruy Guerra, Ana de Amsterdam.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

As minhas cores

Hoje os meus versos mudaram de cor... Ontem disseram que parecia saída de um filme de Almodóvar (mais especificamente o meu vestido e os meus lábios, mas citaram Penélope Cruz, então tranquilizei), já hoje disseram que sou meio Naif.

Fato é que não é a primeira vez que ouço isto... Falo sobre a parte do Naif, que é a parte que me toca. Já Almodóvar, não sei... gosto, mas não vejo-me bem "al borde de un ataque de nervios". Talvez hoje eu estivesse mais para "Ata-me". Sempre tão Naif essa menina...

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Tempo



Algumas coisas parecem perdidas no tempo... ou serei eu?

Imagem: John William Waterhouse

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Casa de Espelhos


Tiraram a chave de trás da porta.

No quarto só havia espelhos,

   Ap an he i           cada      um  da q ue le s            cacos,

Montei-os de volta no lugar,

Vi minhas dores refletidas por inteiro, em cada espelho...

Tornei a  q ue b rá-l o s  .

sábado, 15 de maio de 2010

Hoje

- Hoje eu senti falta, tanta falta, das tuas pequenas coisas... Hoje senti imensa vontade de sentar-me naquele tapete estranho que tu adoras e ver-te a olhar-me como se eu fosse o último no mundo que pudesse compreender-te. Senti tamanha falta de tantas pequenas coisas... De um som tocando baixinho, do livro que deixaste sobre a minha mesa de trabalho, dos teus escritos que na maioria das vezes não faziam sentido algum após a meia-noite.

- Hoje peguei-me falando sozinho...

(sobre o quê?)...

- Ah, sobre as coisas acontecerem sem podermos fazer nada...

(hum...)

- É, seria ótimo se estivéssemos juntos...

domingo, 9 de maio de 2010

Flores



Passada a tempestade, a alma cobre-se de flores.

Imagem: Beatriz Milhazes.

quarta-feira, 5 de maio de 2010



ilustração: poesiaescafandrista by polyvore