Imagem de Francine Van Hove |
Eu, cansada de ser santa, adormeço sobre os pecados que escrevo nos meus cadernos de poesias. As horas desenrolam-se umas sobre as outras, misturando-se, como se não fizesse mais diferença se são três da tarde ou cinco horas. O relógio badala no mesmo tom todos os dias. E as velhas dão milhos aos pombos nas praças, os homens jogam e bebem, as crianças gritam lá fora. E eu aqui, escrevendo poesia. Eu que, lasciva, perdida na noite vagueio. Eu que em horas tortas sou saudades. Eu que sou assim tão livre, faço-me de palavra escondida, cruzada, palavra errada, sou errôneo devaneio meu. Eu que já não sou quem sei, mas o que sinto é puro delírio poético, vaidade lírica, desejo ardente de riscar as paredes com versos e deixá-los lá para que todos vejam, como um amanhecer que se mostra àqueles que tem sentidos para ver e ouvir. Afecção. Penso sobre isso. E sobre deixar-se levar pelo mundo, como folha ao vento, onda no mar, barco à deriva. E deixo-me entregue ao vento, às ondas, às saudades, às poesias de Cecília Meireles, às imagens realistas de Van Hove. Afeto-me e escrevo, pois de outro ofício eu não daria conta a estas horas em que tudo é mera ilusão de saudades de uma velha (menina) senil.
9 comentários:
Eu realmente me encanto com o jeito que você escreve. É exatamente como eu gostaria de escrever! Espero chegar lá um dia!
Ahh, blog atualizado!
Talvez por afinidade e gosto pessoal, este e o post anterior são os meus favoritos. Pra mim, fazem muito sentido.
ps:1) deixei a primeira figurinha no meu blog, graças a um dos teus comentários;
2) se me mandares um email para o meu endereço, adiciono-te ao meu msn, se quiseres.
Eu, cansada de ser santa (...)
Cansei a muito tempo de ser santa, de ser nobre, de ser boa moça.
ADORO! Seus posts
beijão
A gente se perde nos pecados que cria, nos que comete e nos cruzares.
Gostoso, né?
Beijo.
Linda tua escrevência minha amiga linda...
repito mil vezes, a escrita nos salva!!!
Muito bom.
Vim buscar teu link para poder acompanhar seu trabalho. Será um grande prazer.
E é assim mesmo. Só há um caso de amor para quem escreve: O escritor e a palavra.
Cansada e lasciva, devaneia. Pessoal e cativante. Não precisei de equipamento para este mergulho. Vi umas espécies raras mais abaixo.
Abração.
Nossa...Gostei demais.
Muito interessante o teu escrever.
Beijo grande no seu coração inspirado.
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