Imagem: Matrioskas
Reparo na luz que entra pela janela do apartamento. Ainda não é primavera e eu continuo aguardando o telefone tocar. Vejo cada uma das fotografias espalhadas pela casa e algo me diz que alguém, além de mim, vive aqui. Alguém que não consegue combinar sofá e tapetes e coleciona objetos de viagens que simplesmente não se entendem na mesma mesa. Reparo em cada detalhe e me pergunto como cada coisa foi parar em seu lugar (talvez tenham caminhado sozinhas quando anoiteceu), desconfio. De repente percebo que há tantas pessoas iguais neste mundo e me pergunto como envelheci dez anos em tão poucos dias. Como vivi tanto e ao mesmo tempo tão pouco? Quantas vezes o cavalo encilhado passou em frente aos meus olhos e eu não saltei? E eu continuo aqui, feito bobo, reparando em cada detalhe do meu apartamento, esperando a noite chegar. Reparo na luz que entra pela janela, formando sombras junto aos objetos da sala de estar. E eu aqui, sentado, calado, pensando sobre detalhes, um alguém igual a todos os outros, como um objeto da sala.
3 comentários:
Literatura pra mim sempre conversa com música. O que li aqui me fez lembrar de uma canção do Antônio Cícero e Adriana Calcanhoto que diz:
"...guardo inteira em mim
a casa que mandei
um dia
pelos ares
e a reconstruo em todos os detalhes
intactos e implacáveis..."
Parabéns pelo blog e, se quiser, faça uma visita ao meu:
www.espacointertextual.blogspot.com
Me vi pensando em todos os momentos de reflexão que tive, e estou refletindo ainda...rs
Muito bom.
Beijos
Bonitas as peosias daqui tambem (:
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