"Tengo el presentimiento de que cuando hablo de mí misma, empiezo involuntariamente a mentir."
-Edith Piaf.
Coleciono mentiras. Minto com uma facilidade e uma habilidade que, às vezes, chego a eu mesma crer naquilo em que sei ser mentira. Minto sobre a forma como ajo quando vejo-te e finjo não ser a ti a quem endereço os meus versos. Minto compulsivamente sobre não importar-me com quem andas ou o que fazes. Minto da hora que acordo à hora de dormir. Minto e sinto naquilo que minto o peso das minhas próprias verdades. Elas retornam, como fantasmas que habitam uma casa. As minhas verdades, tão grandes verdades, tão impronunciáveis. Sinto-as pesando sobre as minhas costas, como se contassem a si mesmas no brilho dos meus olhos, no cheiro da minha pele, no som do meu sorriso, no movimento dos meus quadris. Coleciono as minhas pequenas mentiras, esmagadas sob o peso das minhas tão grandes verdades. E coleciono minhas mentiras como quem coleciona borboletas, como se elas pudessem fazer-se livres a qualquer momento.