segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Cidade lírica


Bailam os versos meus
Por entre as ruas desta cidade lírica.
Enquanto dormem seus cidadãos,
As imagens oníricas percorrem os labiritos da mente,
Soltos, órfãos de pai e mãe.
As palavras inundam as bocas que,
Aflitas, ousaram pronunciar a essência daquilo
Que nunca foi nem nunca será.

Imagem da web
E os meninos que dormem na rua,
Repousam sobre palavras no papel
Em preto e branco
Enquanto chove.

E a chuva leva embora as palavras.
Escoam pela rua os versos
Que um dia foram deixados nos muros das casas, incompreensíveis.

Em grandes painéis espalhados pela cidade
Contam-se palavras que não são de ninguém.
Os meninos dormem, as palavras bailam,
Enquanto uma poesia insana amanhece
Sobre a grande selva urbana.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

A laranja do dia


"Os homens não têm de fugir
à vida como os pessimistas,
mas, como alegres convivas
de um banquete que desejam
suas taças novamente cheias,
dirão à vida: uma vez mais".

Nietzsche










Desejar a vida que se tem, e não outra. Amar aquilo que é hoje o reflexo de um passado e que tem a sua própria história (porque a vida é em si, mesmo que não estejamos conscientes disto). Amar os cabelos grisalhos e cada linha do rosto como se nelas pudesse ler a sua própria história. Amar as mãos que trabalham, os pés que caminham, o coração que guia, mesmo que, às vezes, inconstante. E amar o instante. Lutar cada batalha, vencer com humildade e perder de cabeça erguida. Desejar viver cada vão momento e sugar da vida cada mínimo prazer, como quem espreme uma laranja todo dia e suga até a última gota.

Baseado na idéia nietzschiana de super homem (o homem que se supera).

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Saudades & Segredos



HotDrink de Marinefromhell
 Devaneio pensamentos suspensos no vazio das horas. Sinto equilibrarem-se sobre o meu corpo todos os meus segredos, como se cada parte de mim ameaçasse revelar algo. Um livro nunca lido dorme na estante, um drink ousa tomar-me e mais uma janela abre-se para o meu despertar. Eu não busco as palavras e elas chegam a mim, surpreendem-me, contam-se como virgens que põem-se a desvelar. Emudeço a boca cheia de álcool e misturando pudor e zelo, ouso contar às paredes a falta que sobra em meu peito neste instante. Adormeço. Coração, feito ave no ninho, fecha as asas. Recosto a cabeça sobre o ombro esquerdo. O peito encharcado de saudades só reconhece dois tempos... Tic-tac, tic-tac, tic-tac...

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Perseverança

Imagem da web
Dai-me, Senhor, a perseverança das ondas do mar, que fazem de cada recuo um ponto de partida para um novo avanço.


A doce, Cecília Meireles.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Romance

Ele: A pessoa por quem você está apaixonada não existe, é uma invenção.
Ela: A pessoa por quem a gente se apaixona é sempre uma invenção.


Falas interpretadas por Wagner Moura e Letícia Sabatela,
No filme Romance de Guel Arraes (2008).

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Felicidade


Imagem DevianArt

Toc-Toc. Felicidade bate à porta. E antes que eu possa abrir, ela entra por si só. Como gato folgado, esparrama-se pelo sofá da sala, invade os quartos, inscreve-se nas paredes da casa. Assusto-me com tamanha habilidade em tornar-se tão fluida e misturar-se à cor da minha pele e à água que bebo. Felicidade, quando chega, desarruma a casa, balança as roupas no varal. Mas felicidade é fugidia, só mais um lance de escadas. Felicidade também serve pra mostrar que tudo na vida passa. Vai e vem, como onda no mar. E ninguém vive só de água e sal. Felicidade é dosagem alta, altamente recomendada e, como adrenalina, acelera o coração. E os olhos brilham, as mãos suam, as pernas tremem... é que diante da felicidade a gente não nota o valor das coisas, só reclama de barriga cheia. Mas eu, eu aproveito sim. Porque sei que felicidade é onda, felicidade muda as cores da casa, muda o sabor das coisas e eu... deixo ela entrar e esparramar-se onde quiser porque ela sim é soberana, rasgada e indecente. Felicidade floresce na sacada, é brisa no mar. Felicidade é quarto de hora e eu sou só instante.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Salve, Palavra!

Palavra dita,
Palavra escrita,
Palavra clareia.
Palavra gravada na pedra,
Plantada na terra,
Palavra que germina,
Que semeia.

Salve, Palavra!*
Que sem ti meus versos não são
E meus pensamentos vãos,
Como brumas,
Vão com o vento.

Salve, Palavra!

Palavra-réquiem,
Palavra que salva,
Que me permeia.
Palavra-loucura,
Palavra-lisura que me norteia.
Palavra-chave,
Coração-abismo
Pra palavra que em mim
Incendeia.


*O título refere-se à obra "Ave, Palavra!" de um dos maiores nomes da literatura brasileira (Guimarães Rosa).

P.S.: Ainda estou respondendo aos comentários da postagem anterior. Abraços.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Necessidade

Durmo, sonho e acordo poesia. Alimento-me de palavras. Uso-as, visto-as, porque existem aquelas que cabem exatamente à forma do meu corpo. E, em mim, as palavras tomam suas próprias formas, os versos fazem-se em minhas linhas como se fosse eu um modelo. Usam-me, penso agora. Recordo-me de as palavras chamarem-me à meia-noite, interromperem meu sono, pronunciarem-se em meus sonhos, obrigando-me a escrevê-las. Relação de dependência ou simbiose? Às vezes elas pedem-me sutilmente que eu conte-as, que eu escreva-as, porque sem mim estes versos não existem e eu... preciso deles para sobreviver.



Imagem da web

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Poesia essencial


Sinto como se brotassem poesias das pontas dos meus dedos e as palavras pudessem, indefinidamente, derramar-se dos meus olhos, como se pudessem dar a cor dos meus cabelos e o viço da minha pele. Sinto como se cada gesto meu fosse como uma poesia em movimento, como se cada verso fosse a minha própria "prosa de vida" e como se cada sonho meu fosse pouco mais do que a minha poesia essencial a mostrar-se inconscientemente dos olhos para dentro.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Receita para roubar um coração



 
"Para se roubar um coração, é preciso que seja com muita habilidade, tem que ser vagarosamente, disfarçadamente, não se chega com ímpeto, não se alcança o coração de alguém com pressa. Tem que se aproximar com meias palavras, suavemente, apoderar-se dele aos poucos, com cuidado. Não se pode deixar que percebam que ele será roubado, na verdade, teremos que furtá-lo, docemente."

Luis Fernando Veríssimo

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Primavera em Paris

Conta-se uma história que havia um deficiente visual pedinte, com um boné aos seus pés na praça de Paris com um pedaço de madeira escrito com giz branco: "Por favor; ajude-me, sou cego!" Um publicitário que passava por aquela praça viu umas poucas moedas no boné, aproximou-se dele e sem pedir licença pegou o giz e reescreveu no o anúncio, colocou o pedaço de madeira aos pés do deficiente e foi embora. No final da tarde, o publicitário voltou a passar em frente àquele pedinte e notou que seu boné encontrava-se cheio de dinheiro, em contrapartida aquele mendigo reconheceu os passos do publicitário e lhe perguntou se havia sido ele quem reescrevera seu cartaz, querendo saber sobretudo o que ele escrevera. O publicitário, então respondeu "Nada que não esteja de acordo com seu anúncio, entretanto com outras palavras." Sorriu e continuou seu caminho... O pedinte, nunca soube o que estava escrito, mas o novo cartaz dizia: "Hoje é primavera em Paris, e eu... não posso vê-la".

Retirado do blog: http://www.diariodeumnetworker.com/
Conteúdo parcial, sem modificações.

Imagem Dreamstime


Então, escafandristas, qual a moral da história pra vocês?




segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Caixinha de música

Imagem da web

"Amor, tem que falar meu bem,
me dar caixa de música de presente,
conhecer vários tons pra uma palavra só".

Adélia Prado


Talvez eu precise de mais amor. Como se amor-próprio não bastasse. A gente não vive sozinho, não vive como no livro de García-Marquez. A gente quer mais. Talvez eu queira mais agora, agora mesmo. Não quero tudo-ao-mesmo-tempo-agora. Não, quero devagarzinho. Quero amor tranquilo, sonolento, meio manhoso. Quero ser a bailarina da caixinha de música, com um par perfeito. Um par perfeito, mais amor, amor tranquilo, música. Talvez eu precise de mais amor... ninguém vive mais cem anos de solidão.


P.S.: Não esqueci dos comentários do post anterior, ainda estou respondendo um a um, ok? Boa noite!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Meias-Palavras

Imagem de Francine Van Hove


Acordo às três. Telefone toca, engano. Falo coisas sem sentido, invento sentido pro que não tem. E escrevo. Faço o que de melhor sei fazer. Misturo palavra e ânsia. Talvez a ânsia tenha criado as palavras. Dizem os especialistas que falar é necessidade de se expressar o que deseja. Mas eu calo. Calo quando deveria falar, calo enquanto desejo ainda. Calo pra não deixar coisas ditas em meias-palavras. Melhor é fazer silêncio do que ser explícita. Mulher explícita não tem graça, dizem que a graça da mulher está no mistério. Sinto que minhas poesias tem acabado assim, meio sem graça, meio sem sentido, como que ditas em meias-palavras. E adormeço então, depois de muito pensar, depois de calar e escrever, depois de fazer mistério, graça, silêncio, prosa e poesia.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Revelar


Revelar-se
E dançar na primeira hora do dia.
Banhar-se com as cores do sol,
Mostrar-se em cada gesto
De profunda alegria,
Celebrando os mistérios da alma,
Da alma que dança,
Da alma que brilha,
Da alma que revela-se.
Vibrar num ritmo natural
E revelar-se pulsante,
Num movimento,
Num tempo
Quase que ideal.



Só para atualizar. Boa semana a todos!