sábado, 21 de novembro de 2009

Parte de mim

Parte de mim se foi,
A outra parte morreu aqui.
Parte de mim era sonho,
A outra parte eu não sei,
Talvez fosse sonho também
Ou devaneio, talvez.
Nada em mim estava sóbrio,
Tudo era irreal.
Parte de mim existia em si
Não precisava de mais nada para ser.
A outra parte vivia em ti
Ou em qualquer outro lugar
Onde habitasse a calma.
Parte de mim era azul,
Parte de mim era só flores,
Parte de mim partiu com os meus amores.
A outra parte ficou aqui.
Parte de mim ficou só parte,
Virou metade
À parte de mim.

Dia da Consciência Negra

O post está chegando meio atrasado, desculpem, mas ontem (mesma data em que morreu o guerreiro Zumbi, em 20 de novembro de 1695) foi comemorado o Dia da Consciência Negra e aqui em Fortaleza houve show da Vanessa da Mata, no lançamento do Natal de Luz do Ceará.

Adorei o show, a Vanessa citou uma tia chamada Rita que alisava os cabelos e não reconhecia suas raízes e depois cantou Joãozinho, falando de novo dos cabelos. O show de ontem foi excelente, ela dançou de uma forma linda no palco enquanto cantava suas raízes negras.

O show se encerrou com "Ai, ai, ai", depois de ela ter cantado "Não me deixe só" (minha preferida), "Ainda bem" e "Amado".

Assim que cheguei a Portugal a Vanessa tinha acabado sua turnê, parece ter deixado muitas saudades. Aqui em Fortaleza também, o público a recebe muito bem. Esperamos o repeteco!!!

A todos que ficam... Feliz Dia da Consciência Negra!

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Ariano Suassuna, Nonato e o Doca da vaca

Jô - Como é a história do seu amigo, da chifrada do touro?

Ariano - Ah, é verdade! Nonato! Chamava-se Nonato. Ele... Existia um touro lá na fazenda, que chamava-se Cacheado, tinha as pontas muito afiadas e Nonato gostava de futricar Cacheado. Ai, Cacheado tava até amarrado, mas Nonato se aproximou e ai... só fez isso, furou aqui (Ariano aponta para a própria bochecha). E aí, menino... porque dizem por ai que menino é bom... Ah, num é, não.

Jô- não é, não.

Ariano - Menino é inocente, por isso é cruel, mas bom não. Eu me lembro quando a gente era pequeno, quando entrava um novato a gente procurava um defeito físico pra botar um apelido que liquidava com o sujeito pro resto da vida!

Jô- Eu gostei dessa comparação: ele é inocente, por isso é cruel...

Ariano - Ele é inocente, não sabe o que tá fazendo. Pronto. Aí a gente ficava mangando de Nonato, que ele ia tomar leite e o leite saía pelo buraquinho (Ariano faz gesto como se algo saísse pela bochecha). Mas depois cicatrizou, graças a Deus e ele ficou bom. Ah, ele era filho do vaqueiro da nossa fazenda... O pai dele que se chamava Seu Luizinho, tava um dia... amarrou a vaca lá pra tirar leite, amarrou o bezerro na pata dianteira e.. tava lá tirando o leite (Ariano faz gesto como quem ordenha uma vaca) e o filho dele, o outro, irmão de Nonato, Doca, chegou e começou a bulir com a vaca. E ele (vaqueiro Luizinho) disse "não bula com a vaca, não". Ai Doca mexeu e ele disse "não bula com a vaca!". Daqui a pouco Doca mexeu, a vaca deu-lhe um coice que Doca revirou assim (Ariano faz de novo gestos) e ele só disse assim: "Se chorar apanha!".

Jô e a platéia riem.

(Programa do Jô exibido em 2007, com entrevista de Ariano Suassuna).

No youtube: http://www.youtube.com/watch?v=kHLQkNTCkAQ

Pescador

Antes tudo era só paz,
Mar sem ondas,
Meio frio,
Mas sem tormentas.

Assim o barco se foi com oferendas
Que não vão voltar.

Navegas hoje nas ondas
Desse mar de desencanto,
Ninguém mais espera o
Pescador chegar.

Ele saiu na madrugada,
Estava tudo escuro,
Ninguém o ouviu falar.

Mal houve despedidas,
Nenhuma lágrima sequer.
Ninguém sabe pra onde foi,
Só se sabe que deixou filhos e mulher.

É assim a vida
De quem vive no mar.
Um dia a felicidade vem,
Um dia ela vai e ninguém sabe o que esperar.

A gente joga a rede e pesca
De repente um sonho que naufragou.
A gente mergulha, trabalha descontente
Na esperança de achar pelo que se rogou.

sábado, 14 de novembro de 2009

Sobre o tédio

Anna vivia entediada, sabe-se lá porquê. Joana entediou-se depois de um final de semana morno. A morena abriu o bar e foi sambar. Carlos não sabia o que era o tédio desde que arranjou uma namorada quinze anos mais jovem. João terminou o expediente e resolveu parar no bar, encontrar os amigos e não ver a hora passar, enquanto a "patroa" esperava em casa, esquentando o feijão pro jantar.



Ah, mas teve um dia que o samba parou, o sino tocou e a patroa foi buscar o marido no bar! Nesse dia a rua inteira se assustou, a Joana largou o amante, a Anna saiu da sacristia ofegante e o padre Carlos não sabia a quem rogar.



E num é que a patroa descobriu que o João tava saindo da linha? Amigo de João ninguém via, sumiu todo mundo, a patroa tava com o "cão nos couro". O bar parecia um circo, a morena pediu pra ninguém fazer besteira no bar dela, que ali era lugar de gente decente.



O padre Carlos disse que aquilo era sem-vergonhice, que homem casado num podia fazer aquilo não e a Anna veio logo atrás, saber o que tava acontecendo. A Joana desceu correndo, achou que o assunto podia ser com ela, ô susto grande!



De repente a rua inteira saiu pra olhar, o João não sabia onde enfiar a cara, dizia que não tinha acontecido nada. Aí a patroa se acalmou, o padre deu "graças a Deus" que nada pior aconteceu. A Anna voltou pra casa, disse pra mãe que o cursinho tinha acabado tarde. A Joana subiu, foi terminar o serviço. A morena mandou ligar o som de novo que o samba num podia parar.



Na segunda-feira ninguém nem lembrava mais do acontecido. A Anna resolveu arrumar um namorado mais novo, o Carlos só vivia desconsolado, a Joana pegou mais cliente no final de semana seguinte, o João voltou mais cedo do expediente, a patroa esqueceu de esquentar o feijão porque tava falando com a morena do bar: "ô vida..."

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

A moça na janela




Lá vai ela,
É a moça que chora na janela
Pelo amor que um dia jurou voltar.

É a moça do coração partido,
Ela que chora sem fazer ruído,
Pro novo amor não notar.
Ele não vê que ela chora
Pelo amor que outrora
Ganhou o mar.

Lá vai ela,
A moça que se debruça na janela
Triste a pensar.

É a moça que mente,
Que ama um amor ausente,
É ela que espera o velho amor chegar.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Carta náufraga

Queixo-me do tédio.
Escrevo a ti uma carta que está fadada a permanecer quieta, silenciosa, queimando no baú das emoções. Se bem conheço meu próprio hábito de fazer confidências às gavetas, esta carta permanecerá aqui, comigo.
Sei que é próprio dos românticos escrever cartas que jamais enviarão, mas esta está aqui apenas para testemunhar mais um naufrágio.
Esta noite foi mais uma daquelas noites em que o sono escapou-me, o riso tomou-me de repente e as horas passaram devagar.
No passar das horas pensei em escrever-te algumas linhas, cheguei a ouvir as músicas que escutávamos juntos, rabisquei alguns versos bobos, românticos... devaneios meus.
É estranho dizer isso, mas não sei se ainda há realmente alguma forma de romantismo em mim. Talvez haja aqui alguma coisa meio despeitada, que recusa-se a calar-se, que torna-se louco, insurgido, impuro talvez.

(...)